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Mostrando postagens de janeiro, 2014

A tese

Certa vez, em uma mesa de bar, um amigo daqueles que sempre tem uma tese acerca do gênero feminino, largou essa: - Existem dois tipos de mulheres: as feitas para casar e as feitas para se divertir. Levei em conta o fato de já estarmos bebendo há mais de duas horas, mas segui dando corda: - E qual os atributos que incluem uma mulher em um ou outro desses grupos? - perguntei. - Para casar, inteligência e beleza. Para se divertir, apenas beleza é suficiente - respondeu ele, dando um gole na cerveja e deixando aparecer um discreto sorriso no canto da boca, daqueles como se pensasse "como sou brilhante". - E o que dizer, então, das que tiveram o azar de não ter nenhuma dessas virtudes? Ou que possuem apenas a inteligência? - Essas, servem somente para integrar as estatísticas de população mundial, por exemplo, ou para pesquisas sobre eleitoras femininas. Coisas deste tipo - continuou ele. Preferi não insistir, para que ele não seguisse com suas teorias e seu ar de superiori

Almoço de Natal

Não lembro de ter faltado alguma vez peru na ceia de Natal lá de casa. Meus pais – seu Orlando,um operador de máquinas de uma indústria metalúrgica, e Niles, uma dona de casa que eventualmente costurava para fora, mas que nos últimos anos de vida fez disso uma rotina porque a situação apertou – sustentavam os três filhos com esforço e dificuldades, mas não nos deixavam sem nada do que era básico. Eu, Mariana e Orlando Jr. terminamos o ensino médio estudando sempre em escola pública. Somente eu conclui uma faculdade, minha irmã casou cedo e seguiu o destino da maioria das meninas do bairro, virou dona de casa e mãe. Meu irmão herdou do pai não apenas o nome, mas também o gosto pela carreira no ramo da metalurgia. Trabalha até hoje na área e voltar a estudar não faz parte de suas prioridades. Antes, está colocar os dois filhos em uma faculdade, "nem que precise morrer trabalhando para pagar", levar a mulher para conhecer Foz do Iguaçu, "com aquelas cascatas que são a coisa

Quanto você vale?

8 da manhã. A colega "de firma" entra no ônibus e se senta ao meu lado. Com fones nos ouvidos, a loira de cabelos longos não pede licença e nem dá bom dia. Coloca uma enorme bolsa sobre o colo e, de dentro dela, começa a tirar espelhinho, lápis, batom e blush. E eu lá, firme, com um olho no meu livro. No percurso de pouco mais de 15 minutos entre a parada na qual ela subiu e o ponto final, em nosso local de trabalho, ela não faz outra coisa a não ser se maquiar. Quase no estacionamento, ainda consegue tempo para, com seu IPhone, bater quatro ou cinco fotos dela mesma. Freneticamente, começa a digitar algo no teclado touch. Certamente, para publicar as fotos no face ou instagram. Então, ela se levanta e caminha na minha frente pelo corredor. Nas costas de sua blusa, um detalhe não tão insignficante que me fez rir baixinho. Uma etiqueta que esqueceu de tirar: R$ 19,90.