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Mostrando postagens de 2011

Para quando a velhice chegar

Há verdades inevitáveis que se aproximam em minha vida e me assustam. Por isso, já passo a me armar para enfrentá-las. Dentro de uns 3 anos, iniciarei uma terapia, para que ela comece a me preparar para a velhice. Preciso estar bem mentalmente para aceitar isso, pois fisicamente, já tomei minhas precauções, procurando há dois anos uma nutricionista, que me obrigou a entrar na linha e me ajudou a perder 12 quilos. Hoje, até exercício físico eu faço, corro semanalmente e me sinto bem com meu corpo. Dentro de uns 20 anos, talvez menos, poderei ser avô. Meu Deus, duas décadas passam voando e não estou pronto para ser avô, e provavelmente não estarei em tão pouco tempo. Eu temo a velhice. Noite dessas, um amigo bateu uma foto de mim ao lado da minha filha de 9 anos, a Manoela. Fiquei impressionado quando vi, no dia seguinte, a imagem na tela do computador. Ao lado de uma menina linda, de pele bronzeada, radiante e sorridente, estava eu, com minha falta de fotogenia, enrugado, apesar de feli

O choro da vida

Sufocada, Francisca se debatia. Submersa, tentava reagir, movendo braços e pernas. Mas, espremida na escuridão, não conseguia se desvencilhar. Após minutos de combate intenso, começava a fraquejar. Porém, não se entregava. Não havia lutado durante tanto tempo para desistir no final. Não agora, com toda uma vida pela frente para usufruir junto aos pais que tanto a amavam. Francisca era brava. Seu ritmo, porém, menos intenso. Vinha quase no limite da resistência física, e o ar lhe escapava. Restava entregar o destino à própria sorte. Ao desespero de Francisca, seguiu-se um clarão e um estrondo. Com esforço, conseguiu abrir rapidamente os olhos, e percebeu que algo a tocava. Seria Deus? Agora, após tanto sofrimento, sentia frio e alívio. Duas mãos a puxaram em um golpe único de dentro do útero que a envolvia. Francisca, finalmente, pode respirar. Então, chorou. À sua volta, seus pais também. O choro da vida.

O grande BBB

Larguei o jornalismo (diário, vamos deixar bem claro) em 2006, quando deixei a redação de veículo pra entrar na assessoria de imprensa que trabalho até hoje. Mas é impressionante observar, agora acompanhando mais de fora, como fornecedor, não consumidor, como o jornalismo mudou em tão pouco tempo. É cada vez mais um grande BBB. Cada vez mais os jornalistas, que deveriam ser como juiz de futebol, que quanto mais despercebido passar, melhor, são o fato, mais importantes do que as notícias que relatam. Na TV, especialmente, e no rádio, já se via aquele narcisismo, os repórteres-estrelas, mas agora vê-se isso cada vez mais também em jornais. É fotinho de repórter ao lado do nome, nas excessivas matérias assinadas. E hoje, vendo a cobertura dos veículos sobre a morte de Bin Laden, vejo, ouço e leio muitos se vangloriando da excelência de suas equipes por se puxarem, montarem forças-tarefas e fecharem edições com a notícia da morte do cara, que entrou nas redações por volta de meia-noite. Or

O chato

Foi o tempo de me acomodar naquele ônibus que fazia a linha da PUC para ter minha atenção - ou minha audição -despertada pela conversa que vinha do banco de trás. Dois rapazes, certamente estudantes que se dirigiam à faculdade, desenrolavam um "papo-cabeça". - Temos que aproveitar as oportunidades, correr atrás de nossos sonhos, acreditar - dizia o mais falante deles. No início, fiquei um pouco impressionado de ouvir em um trivial papo de ônibus uma discussão filosófica e profunda. - Preciso viver com emoção, gosto de viver com emoção - reforçava o jovem, que emendou em seguida. - O grande problema hoje em dia é que as pessoas chegam à metade de suas vidas profissionais frustradas e desanimadas. Por isso, preciso viver com emoção - insistia ele. Aos poucos, a conversa entre os dois passageiros, quase um monólogo, foi enveredando por novos caminhos. E comecei a me inquietar com as posições do "sábio" sentado atrás de mim. - Veja os casais, por exemplo. Atualmente, as

A porta se fechou e ele ficou para trás

A menina, ao entrar no ônibus, ainda pode escutar parte do apelo do jovem que, na parada, conseguiu dizer para ela: - Me liga. 9696... Ela se voltou para ouvir, mas a esta altura o motorista ja fechara a porta atrás dela e começava a arrancar o veículo. Não deu tempo para a menina morena, olhos amendoados e cabelos presos em um rabo, responder. Mas o ônibus andou pouco e parou detido em uma sinaleira. Foi quando ela fez um gesto para o pretendente, do lado de fora, como a avisar que não entendia o que ele dizia. - Me liga. 9696... - começou ele, com a boca próxima da janela, movimento lento dos lábios, sem som, pra que ela pudesse lê-los. Repetiu duas, três vezes. Ao perceber que, no lado de dentro, a garota não conseguia entender, o rapaz digitou rapidamente o número no visor de seu celular e o encostou no vidro da janela, para que ela enxergasse do outro lado. Neste exato momento, o sinal abriu e o ônibus partiu, quase derrubando o celular e o garoto na calçada. A menina fez um esfor

A ameaça

Já tranquilizei a Simone (ou intranquilizei, depende do ponto de vista do leitor), esta santa que me atura há vinte anos. Só duas mulheres neste planeta de bilhões poderiam representar uma ameaça a ela. Aquelas que, ligando pra minha casa, ou simplesmente me mandando um torpedo com três palavras, me fariam abandonar a família, sair porta afora sem dar explicação ou olhar para trás e me jogar nos seus braços. Algo assim, uma senha do tipo "venha, te espero", acionaria um chip no meu cérebro, semelhante àquele que tira completamente a lucidez de qualquer ser humano do sexo feminino quando ouve a palavra "sapato". Pela reação da Simone, posso concluir o seguinte: ou ela confia demais no taco dela, ou tá louca pra se livrar de mim, porque não demonstrou nenhuma preocupação com a possibilidade de ver o marido largar o lar para virar escravo da Catherine Zeta-Jones, ou da Angelina Jolie. Qualquer uma delas que me quiser possuir, tô topando. A Simone teria que me desculpar

Amnésia

Deixei o esporte da ZH em junho de 2006, e desde então acompanho apenas como leitor e apreciador da editoria na qual atuei por quase 20 anos. E como leitor (e também como jornalista, claro) me entristece ver que nesses quatro anos o esporte perdeu o Boró e, agora o Mário Marcos, dois de meus ex-chefes editores. O Boró foi transformado em repórter especial da geral e o Mário, decidiu sair depois que "suspenderam" a coluna diária dele. Sem falar no professor Ruy, que passou a ser somente duas vezes por semana. Personagens que convencionamos chamar "os cabeças brancas", tão importantes e tão em falta nas redações atuais, por representarem a experiência e o conhecimento de quem vivenciou fatos e a história, além de, no caso do Mário e do Boró, terem ótimos textos. Desse jeito, vão sobrar só o "veinho" Jones e o Benfica, competentes e com gás que muito guri não tem. Por que descartar gente tão importante? Ok, talvez eles não produzissem tanto em quantidade (não