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Mostrando postagens de 2010

O dia que a cabeleireira fez uma criança chorar

Levei 46 anos pra entender o real significado do cabelo para uma mulher. Ou, pra ser mais claro, de um corte de cabelo que desagrada a uma mulher. Pois estava ela lá, a Manoela, em seus 9 anos, sentada na cadeira da cabeleireira. Chorava copiosamente, soluçava, e as lágrimas desciam velozes pelo seu belo e fino rostinho. Para a apresentação de Natal da escola, que encerrava um ano excelente, de apenas conceitos A no boletim, a Manô decidiu junto com a mãe que deveria cortar o lindo cabelo preto, que vinha preservando por esses anos todos com esmero e orgulho, sempre na altura das costas, abaixo dos ombros. Chegaram no salão e determinaram. – Corta acima dos ombros. Deram mais alguns detalhes de como desejavam, aqueles detalhes que só mesmo as mulheres para enumerá-los. O problema é que a mamãe Simone tinha um compromisso profissional e teve de deixar a Manoela por poucos minutos nas mãos da cabeleireira, enquanto o pai aqui não chegava do trabalho. Fiquei de passar lá para pegar a filh

A lição de Hatoum

Posso até me tornar um bom jornalista se não gostar muito de ler, mas não terei o mesmo sucesso profissional se não gostar de escrever. Gostar de escrever é primordial para o bom jornalista. Passei a pensar nisso especialmente depois que assisti, na Feira do Livro do ano passado, a um "Encontros com o Professor", quando o Ruy Ostermann conversou com o escritor amazonense Milton Hatoum, que a certa altura do bate-papo surpreendeu a plateia com essa: – Espero que meus filhos não queiram ser escritores. Foi um choque para mim ouvir isso de um dos mais importantes autores brasileiros. Hatoum emendou, em seguida, justificando que é "muito difícil" ser escritor no Brasil, pelo pouco reconhecimento, por isso a sua expectativa para com os filhos. Penso que todo o jornalista é um escritor frustrado, à exceção daqueles que conseguem ser as duas coisas ao mesmo tempo, com igual talento, sem frustrações. Não entendei a colocação de Hatoum. Ou melhor, entendi, mas me permito dis

Em busca da felicidade

A felicidade é encontrada nas coisas singelas. Não precisamos escalar geleiras para alcançá-la. Basta termos a simplicidade que nos faz enxergá-la a nossos pés. Está na sexta-feira à tardinha, quando o pai busca os filhos na escola e percebe que o fim de semana se aproxima para ser desfrutado ao lado deles. Ou, no sentar na sacada para curtir minutos de ócio e reflexão, sem livros, MP3 ou celular. Está no olhar e contemplar. Apenas olhar e contemplar. Podemos saboreá-la na mordida no baguete, com queijo, tomate e maionese caindo pelos lados. No copo de água gelada que refresca o corpo e nos faz sentir vivos. Felicidade é ter os ouvidos massageados pela voz de Rachael Yamagata. Ou Norah Jones. Está nas letras, que juntas formam palavras, e nos fazem sonhar. Está no sonho, que nos faz despertar com um sorriso. O homem é um ser complexo, é por isso que complica a busca por sua felicidade. Ela pode estar aqui, quase imperceptível. Basta olhar para o lado.

Vencedor e derrotado

Se engana quem pensa que o grande vencedor da eleição presidencial foi a Dilma e o perdedor, o Serra. Na verdade, a maior das derrotas desta eleição foi a da imprensa - boa parte dela -, que assumiu a candidatura de Serra a ponto de virar o fio, apresentando a Dilma como Satanás. É preciso uma grande reflexão da imprensa sobre sua perda de credibilidade. É tanto denuncismo, tanta notícia infundada, que o povo deixou de acreditar e considerar essa "onda de sujeira". Há muito de exagero no modo como a imprensa age. Parece que o governo Lula só se caracteriza pela sujeira e pela corrupção. Como o eleitor está consumindo mais, comendo mais e vivendo um pouco melhor, ele consegue "separar", e filtar o que lê, vê e ouve. Há corrupção, claro que há, mas a solução para corrupção é combatê-la e puni-la. A internet foi a vencedora porque foi ela quem nos permitiu fazer o contraponto que a grande imprensa não permitia. Se ela existisse em 1989, talvez o país não tivesse entrad

O Agenor é alguém

- Alguém pode ir lá na área de serviço desligar a máquina de lavar roupa, Agenor? - indaga a mulher, sonolenta, mergulhada no edredon. - Como assim, "alguém" - retruca ele, enquanto termina de dobrar a roupa que está sobre a cama para guardá-la no armário. - Por que a utilização deste pronome se só estamos eu, você e a Clara em casa? Levando em conta que ela tem quatro anos e nem sabe o que é uma máquina de lavar e você está quase desmaiada no travesseiro, "alguém" só pode ser eu, né? - Credo, que mau humor - ainda resmunga Cilene, sem abrir os olhos, antes de se virar para o outro lado e seguir o caminho aos braços do Morfeu. - Pelo menos eu sou "alguém" - pensa o marido, buscando consolo. E lá se vai o Agenor desligar a máquina.

O eleitor medíocre: renovem-se os eleitores!!!!

Só existe o político ladrão, sem vergonha e safado porque existe o eleitor medíocre. Afinal de contas, é quem vota que o coloca lá. Está certo que, algumas vezes, somos surpreendidos negativamente por aqueles que considerávamos "limpos" e que, depois de eleitos, acabam flagrados em alguma "falcatrua", pra dizer o mínimo. Mas e nas vezes (e não são poucas) que o candidato até condenado já foi, tem a ficha suja e volta a atuar pela livre vontade do povo que o reelege? Estamos cheios de exemplos aí de maus políticos reeleitos mais de uma vez. É como a história do cônjuge adúltero. Ele trai o parceiro (a) também porque no outro lado da relação existe uma terceira pessoa disposta a se relacionar com alguém mesmo sabendo ser este casado (a). Portanto, a justificativa que muitos usam de que "político é tudo igual, e por isso justifico ou anulo meu voto" não passa de desculpa. Existe o político bom e o ruim, o jornalista bom e o ruim, o médico idem. Resta a nós, c

Os Tiriricas

Estamos a dois dias das eleições, e durante este período de campanha, alguns fatos estiveram em evidência. Um deles é o fenômeno Tiririca. Analistas, especialistas e entendidos garantem que o palhaço-candidato irá se eleger deputado federal por São Paulo com mais de um milhão de votos (nada surpreendente para um Estado que idolatrou Maluf por anos e agora não se cansa de reeleger o insoso PSDB pra governar lá), e com isso levará para a Câmara consigo outros candidatos inexpressivos, com baixa votação, mas carregados pelo fenômeno Tiririca. Vejo as pessoas antecipadamente sofrendo com isso e expressando sua indignação com alguém que baseou sua campanha com o bordão: "Vote em Tiricia, pior do que está não fica". Tentaram até impugnar a campanha do palhaço, alegando que ele é analfabeto, e a Constituição brasileira proíbe quem não sabe ler e escrever de concorrer. Como nada foi provado, a candidatura dele acabou confirmada. Estranho que se tente impedir o palhaço de disputar um

Se a moda pega...

A Embraer, fabricante brasileira de aviões, quer que no futuro as suas aeronaves sejam comandadas apenas por um piloto, eliminando-se a necessidade do copiloto. Diz que a função deste último poderia ser substituída por computadores de bordo. A companhia aérea de baixo custo Ryanair já pensa em fazer isso em seus vôos. O diretor-executivo da empresa, o irlandês Michael O'Leary, pretende pedir autorização às autoridades europeias de aviação para que vôos de curta duração pelo continente levem apenas o piloto. Se bem que não dá para levar muito a sério o que O'Leary diz, embora a Ryanair já seja a maior da Europa em número de passageiros transportados (para este ano, a previsão é a de superar os 65 milhões de passageiros). O executivo já sugeriu cobrar pelo uso dos banheiros nos aviões e até o transporte de passageiros em pé. Fico pensando se a moda pegar: em restaurantes, se o cliente se dispuser a retirar os pratos da mesa após a refeição e carregá-los até a cozinha, dispensando

A data

20/09/2010: o início da retomada da nossa Bastilha.

Folheando o laptop

De volta à discussão sobre o fim do jornalismo impresso. Essa semana, Arthur Sulzberger Jr., presidente do conselho e editor do The New York Times admitiu, durante evento em Londres, que o seu jornal abandonará a edição em papel. E que isso não deverá demorar muito, talvez em até 5 anos. “Nós deixaremos de imprimir o New York Times em algum momento no futuro, em data a ser definida”, disse Sulzberger. Pode ser até que Sulzberger fale a verdade com relação ao NYT, mas sempre que ouço alguém prevendo o fim do jornalismo impresso no mundo lembro do filme Blade Runner, o Caçador de Andróides. Na obra-prima de Ridley Scott, em um futuro distante, as pessoas vivem em um planeta sombrio, chuvoso, triste e quase dominado por replicantes. Neste filme, as pessoas se transportam por veículos que voam, como se fossem espaçonaves em miniatura. Muito legal. Por que me vem à memória este filme? Porque só consigo imaginar o jornal impresso terminado quando a ficção de Ridley Scott se tornar real. No d

Castigo

Em outra encarnação, eu joguei pedra na cruz. Só pode ter sido isso. Aí, quando Deus me concedeu a vida atual, disse: – Tu vai voltar à Terra como gaúcho e morar a vida toda no Rio Grande do Sul, como punição aos pecados na tua passagem anterior. É a única explicação que eu vejo pra me fazer sobreviver nessa terra no inverno: frio, 100% de umidade, chuva, quase virando sapo essa semana de tanta água. Isso aqui é o purgatório, só que úmido e gelado. Injustiça minha: o purgatório deve ser melhor do que isso.

A vida é bela

Estava eu lá plantado, feito um 2 de paus, de madrugada, na esquina da João Pessoa com a República. À minha volta, colorados enlouquecidos comemoravam o bi da Libertadores nas calçadas, agitavam bandeiras, berravam e cantavam. Carros buzinavam com os caronas meio corpo para fora da janela. Foram minutos difíceis, quase uma tortura. Não, uma verdadeira tortura. Esperava pela Manoela e a Simone, que vinham a pé com meus pais de uma pizzaria próxima, onde assistiram ao jogo final. O ponto de encontro era justamente ali, estratégico, naquela esquina, um pouco mais distante da rua onde o congestionamento impedia qualquer deslocamento. Não resisti ao vê-la. Até o meu mau humor sucumbiu àquela imagem. Em minha direção, bracinhos abertos, vinha correndo a Manô, sorridente, toca vermelha e branca, feliz aos oito anos com o segundo título sul-americano que acabara de presenciar de seu time. Curvei-me, respeitosa e afetuosamente, como devemos nos curvar solenemente aos campeões, para beijá-la. Um

Mensagem para minha filha

Acho que vale a pena repetir esta carta, que escrevi para a Manô, no dia Dia dos Pais de 2009. Agora, acredito que ela já pode ler e entender melhor Manoela, minha filha amada: Neste Dia dos Pais, quero te dar parabéns. És tu que o merece. Desde o momento em que expressaste o teu primeiro som, naquele 31 de outubro de 2001, te tornaste protagonista. O personagem principal de uma obra que, se eu não a vivesse contigo, juraria tratar-se de ficção. Mal te aproximas dos nove anos de vida, Manoela, mas é incrível o teu poder. O poder de transformar, que vem desde quando deste o teu primeiro berro nos braços da obstetra, já reivindicando a atenção do mundo e de teu feliz e aflito pai de primeira viagem. Pai que, seguramente, é outro homem desde então. Aí está o teu primeiro mérito. A capacidade de, mesmo tão frágil e indefesa, quebrar as resistências de um cara já maduro, que se julgava devidamente vacinado contras as armadilhas que nos prega o coração. Mas que, surpreendido, se deixa vencer

Bárbaries são bárbaries. No Irã ou nos EUA

Sakineh Mohammadi Ashtiani tem 43 anos e está prestes a morrer no Irã. No mês passado, Ronnie Lee Gardner, 49 anos, morreu após ser condenado nos Estados Unidos. A diferença está no método, mas a bárbarie é a mesma. Sakineh foi condenada a morrer apedrejada, acusada de adultério, e julgada pelo tribunal teocrático do seu país. Gardner, por fuzilamento (o método, ao menos, ele teve o direito de escolher), por ter assassinado um advogado em Utah. Foi julgado por um tribunal oficial, dentro das leis do Ocidente. O mundo se levantou de indignação – não sem razão – em defesa de Sakineh. O presidente Lula até implorou clemência ao presidente do Irã e chegou oferecer abrigo a ela no Brasil. Ahmadinejad agradeceu educadamente o interesse, mas recusou. Disse que problemas desse tipo devem ser resolvidos internamente, no Irã. Para Gardner, o mundo não levantou a voz em defesa (talvez o tenham feito familiares e uns poucos amigos) pedindo clemência. A diferença é que ao Ocidente a morte de Gardne

Última chamada

Sabem por que os vôos atrasam tanto pra decolar? É que todos os passageiros deixam para entrar na aeronave na "última chamada". Por que não na primeira?

O anão zangado

Nuca simpatizei muito com o Dunga. Não me agrada o estilo truculento dele e a maneira com que trata os jornalistas, como se todos fossem um bando de incapazes que só estão na coletiva pra torrar a paciência do gênio que treina a seleção. E, como jogador, sempre o considerei um volante "médio", ao estilo de muitos dos jogadores que hoje ele convoca pra sua seleção brasileira. Limitado como atleta, acabava sempre se impondo mais pela vontade e a personalidade forte. Os episódios recentes dele na briga com a Globo durante a Copa do Mundo na África só demonstram que hoje, do lado de dentro da casamata, ele aplica a mesma lição que considerou vitoriosa nos gramados, como o capitão do tetra que foi na Copa dos EUA, em 1994. Quem não se lembra da bronca no Bebeto, aos gestos e aos gritos, via satélite para todo o mundo, durante uma partida daquela Copa? A maneira desrespeitosa como ele tratava outras pessoas, inclusive colegas de time, com a justificativa de que era necessário para

Peçam perdão, senhores

Os homens engravatados da Fifa, que transitam pelos corredores acarpetados dos luxuosos hotéis da África do Sul, deveriam pedir perdão. Não só eles, mas também eles, que incharam a Copa do Mundo e colocaram 32 seleções, boa parte delas sem condições técnicas de disputar a principal competição do calendário do futebol mundial. Virou comércio, a troca de vagas por votos na eleição da entidade...Vai saber. Afinal, quem me explica o que faz a seleção da Argélia nessa Copa? Nova Zelândia? Austrália? Sérvia? Eslováquia? Aos torcedores, que pagaram para ver o "espetáculo" da Copa ao vivo nos estádios, deveria ser devolvido o dinheiro por estelionato nesta primeira rodada. Além disso, jogadores e técnicos teriam também de pedir perdão pelo produto horroroso que apresentaram, com times burocráticos, entediados e entediantes, sem nada de "inventivo". Àqueles que compraram a TV de tela plana de 42 polegadas na expectativa de assistirem na sala de casa ao show que lhes venderam

A frase

Essa frase recebi hoje por email e achei espetacular. É atribuída ao ex-jogador do Santos, o meia Diego: "Antigamente, o Brasil não aceitava o homossexualismo. Depois, passou a tolerar. Hoje, considera normal. Vou-me embora deste país antes que se torne obrigatório". Me perdoem os gays, mas não podia deixar de brincar. Abraço a todos.

Há beijos e beijos

Por que consideramos repulsivo um beijo público entre duas mulheres e aceitamos, e até achamos bonito, ver duas transando? Ok, não são todos que consideram sexo entre duas mulheres bonito ou tolerável, falo especialmente de homens. Mas há mulheres que não se opõem, em compensação, assim como os homens, torcem o nariz ao verem um beijo espontâneo entre duas namoradas em praça pública. Talvez porque o sexo seja feito entre quatro paredes, com plateia restrita . O ser humano é assim. Tolera o que não vê, embora saiba que exista, não concorde e nem considere aceitável. É como o pai aquele que libera a chave do apartamento para a filha ir com o namorado para a praia. Sabe que eles vão ficar sozinhos e não vão apenas tomar banho de sol, mas como não está na vista dele, faz de conta que não está acontecendo nada. Há também que considerar o preconceito humano. Beijo público entre duas mulheres tem um significado mais, diríamos, romântico. Por que um casal heterossexual se beija? Porque está ap

No final, deu Argentina

Pô, e não é que o Maradona "foi mais rápido" do que o Marcos e fez o filho na Dora, mesmo tendo chegado depois? Neste clássico, deu Argentina. Francamente, José Maier...

Então vamos combinar o seguinte...

Eu não torço pra seleção brasileira. Ponto. A última vez que torci foi em 1982. Portanto, sem essa de que é patriótico torcer pra seleção e quem não o faz não é patriota. Não dá pra misturar as coisas, é apenas uma seleção, apenas uma Copa, não vale mais do que isso. Nada vai mudar no Brasil se ganharmos ou perdermos. É apenas futebol. Não está em jogo a independência do País ou a sua entrada definitiva no primeiro mundo. Tenho minhas razões. Ideológicas, filosóficas, que sejam. E vamos parar com as patrulhas.

O homem multimídia

Este sim era um verdadeiro homem multimídia. Entrei no táxi daquela cooperativa chamado para me pegar no trabalho. Cumprimentei o motorista, como sempre faço, e sentei no banco dianteiro, dizendo em seguida onde precisava que ele me levasse. O caminho incluía a free-way (BR-290) e avenida Farrapos. Já na free-way, escutei um som que me pareceu, inicialmente, o toque de um celular. Um pouco mais adiante é que pude perceber: o som que eu escutava, na verdade, vinha de uma pequena televisão, colocada entre as pernas do motorista, no banco. Foi quando olhei para o lado e percebi, que sobre a perna esquerda, repousava também um celular. Cheguei a temer que o telefone tocasse. Imagina, o motorista ter de cuidar o trânsito, as sinaleiras, a TV, o celular, o rádio de comunicação com a base da cooperativa, o FM e o GPs. Isso me faz lembrar dos "repórteres multimídias" da atualidade, que vão para uma cobertura e precisam fazê-la para jornal, TV, rádio, internet, twitter, blog, e acabam

Da série "eu vivo sem isso"...

Alguém por aí tá sentindo falta do BBB?

Mergulhado no caos

A impressão que dá é que somente o Cristo Redentor, erguido no topo do Corcovado, a mais de 700 metros de altura, escapou de ficar ilhado na segunda-feira. As águas de abril, que banharam o cartão-postal brasileiro, desta vez não vieram do mar de suas belas praias. Despencaram dos morros, furiosas, depois de desabarem do céu quase sempre tão iluminado da Cidade Maravilhosa. O Rio de Janeiro submergiu e sucumbiu no caos. Só o Cristo permaneceu lá, de braços abertos, a olhar pelos cariocas, que só podiam recorrer a Ele. A quem mais? Decididamente, está estranho este início de 2010. Terremotos que matam milhares, chuvas torrenciais que soterram centenas...Será a ira de Deus, que não poupa nem a cidade onde seu filho é símbolo?

Homofobia e preconceito

Mesmo para caras como eu, que acompanham de uma distância segura programas como o Big Brother (segura o suficiente pra não sentir falta dele agora que terminou), é impossível ficar indiferente à discussão com a qual fomos bombardeados pela mídia na últimas semanas. Afinal, o vencedor Dourado, é homofóbico? Bom, vamos por partes. Acho, em primeiro lugar, que Dicésar foi esperto o suficiente para criar um fato dentro da casa, contra Dourado, para tentar ganhar a simpatia do público para um"gay que sofria de preconceito de um companheiro de confinamento que representava o pior da sociedade que os assistia do lado de fora". Ponto um. Deu mais ou menos certo. Convém lembrar que Serginho, o outro gay da casa, no dia seguinte ao final do BBB afirmou em entrevista ao globo.com que não percebia em Dourado um "homofóbico". Ponto dois: é claro que existem pessoas discriminadas no Brasil, em todas as sociedades existem. Mas não são apenas os gays, os negros ou os pobres que sof

Liberdade vigiada

Já que a vida é mesmo um big big brother, e hoje tem a final, estava eu debatendo sobre as redes sociais com a Simone, que até foi quem me sugeriu que escrevesse no blog sobre isso. Eu, realmente, devo ser um cara mais "antigo" do que penso. Para começar, não sou uma pessoa que fique muito "à vontade" com os recursos que a informática nos proporciona, e isso, nos dias atuais, é um atraso. Tenho orkut (que fiz meio a contragosto, admito, atendendo um pedido da Manô e da Simone), facebook (que acabei me cadastrando por "imposição", para aceitar um amigo que me convidou, caso contrário, não teria feito) e twitter (que nunca acesso). O máximo da modernidade pra mim, até bem pouco tempo atrás, eram dois emails, um blog e um MSN. Cheguei ao ápice quando instalei uma webcam no meu micro pro skype. Mas, de fato, não me sinto à vontade com tudo isso, não me agrada a ideia de ser invadido por pessoas que sequer conheço (tampouco pelas que conheço!) como ocorre, por

Torpedinho

– A mulher tinha um olho que parecia uma bolita de gude. – Como, redondo e brilhante? – Não, de vidro!

No banho com a Soninha

Responda (não precisa ser rápido, dou uns minutinhos pra pensar...): você seria capaz de tomar banho junto com uma amiga apenas para esfregar-lhe as costas, como irmãos? E você, mulher, dividiria o box com aquele amigo bem próximo para somente passar-lhe shampoo? Pois o José fez isso com a Soninha, e admitiu para a turma, naquela noite, na mesa do bar: – Ah, para, tu tá nos tirando, né? – foi o que ouviu dos amigos, que riram da sua cara. – É sério, vocês não acreditam? José e Soninha se conheciam há 5 anos, desde que ela entrou na firma e passou a trabalhar nos Recursos Humanos junto com ele. A afinidade foi imediata, já que tinham algumas coisas em comum: se formaram em Administração na mesma universidade, embora em anos diferentes, gostavam de jazz, torciam pro mesmo time, liam Agatha Christie e adoravam licor de chocolate. Até se criaram meio próximos, em duas cidades do Interior separadas apenas por 55 quilômetros, e frequentaram algumas das mesmas festas na região – De repente, a

Da série coisas difíceis de entender...

Se as pessoas ligam o ar-condicionado para espantar o calor enquanto dormem, por que usam edredon para se aquecer?

A menina só

Os minutos foram se passando, e Marina começou a ficar nervosa. Fazia mais de uma hora que dera o sinal, e a essa altura, além da funcionária da recepção, a diretora da escola, a coordenadora pedagógica, e mais três professoras, inclusive Liége, a da 1ª Série, que Marina frequentava, realizavam um mutirão de telefonemas, tentando localizar algum parente que viesse buscar a menina, de seis anos. A escola estava vazia, até os últimos alunos retardatários já haviam batido em retirada. A tarde, já encoberta pelo crepúsculo, se despedia com uma chuva fina e um vento gelado. Os pais de Marina normalmente se atrasavam para buscá-la na escola. Às vezes a mãe, outras vezes o pai, pontualidade não era o forte deles. Mas nunca ocorrera de a filha ter ficado mais do que 30 minutos esperando alguém para levá-la para casa. Havia uma salinha na recepção na qual as crianças menores permaneciam até a chegada de pais retardatários. Marina estava sozinha. Mantinha a mochila colorida de pé à frente dos pé

Livros que me orgulho de ter lido

listinha bem restrita, pra ficar ainda mais difícil de escolher. As opções foram citadas não necessariamente pela ordem de preferência, mas por terem vindo à lembrança nesta ordem: 1) Crime e Castigo 2) O Processo 3) O Jogador 4) Abusado 5) Anjo Pornográfico 6) O Apanhador no Campo de Centeio 7) O Escaravelho do Diabo – Esse merece uma explicação. Não recordo o autor ( pesquisei no amigo Google, é de Lúcia Machado de Almeida ), mas é a lembrança mais remota de um livro que li na escola e, com um detalhe importante: lido e gostado. Talvez tenha sido o livro que me despertou para a leitura

Sobre argentinos

Pensei já ter escrito sobre isso aqui no blog, mas na pesquisa que fiz nos tópicos não encontrei. É a respeito daquelas pessoas (boa parte da população brasileira) que fazem questão de falar mal de argentinos e de sempre torcerem contra eles. Os argumentos são diversos: "Eles são arrogantes, se acham, são mal-educados, racistas, etc, etc...". Concordo em parte. Mas posso enumerar uma outra série de adjetivos que me faz admirar os hermanos e gostar deles: 1) São mais cultos e têm melhor formação educacional que os brasileiros 2) Lêem mais do que nós 3) Discutem - e bem - política 4) Têm mais "gana" 5) Todas essas virtudes acima os tornam menos alienados do que os brasileiros. Quando algo não está bom nos governos, eles vão às ruas, protestam, batem panelas e derrubam governos, se assim for preciso. Julgam - e prendem - os assassinos da ditadura militar 6) A capital deles é muito melhor do que a nossa. Anos-luz melhor. Ofereça-me três jogadores argentinos bons pra jog

Isso não tem importância

Mulheres, se um dia vocês sairem com um pretendente, namorado ou marido, não liguem se eles não notarem no seu vestido, ou não repararem no seu novo corte de cabelo. Não provoquem uma crise por isso. Não façam beicinho, não resmunguem, nem mostrem aquele ar de quem não gostou de alguma coisa, mas não diz o que é, o que faz com que o coitado passe todo o jantar sabendo que há algo errado, mas sem descobrir o quê. "Foi alguma coisa que eu disse? Ou algo que eu fiz?", tenta desvendar o cidadão, sem obter resposta. Sabe por que vocês não devem ligar pra isso? Porque simplesmente o seu vestido ou o corte do seu cabelo não tem importância. É como aquele comercial da Volkswagen: são raras as mulheres que sabem a marca, ou o modelo, do carro com o qual o pretendente passou na sua casa para pegá-la pela primeira vez para sair. Nem por isso os homens ficam chateados ou brabos por vocês não repararem neste detalhe. Sabem por quê? Porque, para nós, isso não é importante: o importante é

Calça saruel

Existe coisa mais ridícula na moda atual do que as calças saruel? A criatura parece que tá cagada, de bombacha. Há quem goste e use. Bom, tem gente que gosta e come bife de fígado, também. Tem gosto pra tudo neste mundo

Opostos que se atraem

Eliete era a "parte macho" do casal, costumavam brincar os amigos. Quando no restaurante, o pedido com alguma frequência era de uma cerveja e um refrigerante para acompanhar o prato. O garçom não tinha dúvidas: ao servir, colocava a cerveja na mesa diante do Roger e o refrigerante na frente da Eliete. Ato contínuo ele, meio constrangido, indicava para que o garçom fizesse a troca: – O refrigerante é para mim – dizia o marido. Depois de sucessivas repetições da cena em diferentes restaurantes, parou de avisar. Preferia que o garçom se retirasse para só então ele mesmo fazer a troca. Nas refeições, também ela costumava pedir os pratos mais apimentados ou calientes: pizza de calabresa, carne com chilly . Para ele, cebolinha na manteiga, ou filé ao molho de queijo. Champanha, para Eliete, era brut. Para Roger, demi sec. O mesmo com o vinho: seco para um, suave para outro. Vai ver por isso se davam tão bem. Os opostos se atraem, dizem. Eliete torcia para o Inter, Roger, para o Grê

Ser desumano

O ser humano chafurda e anda de quatro. Se não, como explicar o relaxamento que contribui para que as chuvas alaguem ruas e invadam casas porque as bocas-de-lobo, entupidas pelo lixo, não conseguem dar vazão à água? Ou a dengue que assombra cidades por que em algum lugar da vizinhança alguém deixou a água acumular naquela piscina abandonada ou naquele pneu velho atirado no pátio dos fundos? O ser humano chafurda. Faz dos terrenos depósitos de lixo. Carros modernos, carros velhos, carroças, bicicletas, estacionam no meio fio e despejam entulhos na calçada e terrenos baldios. E os fumantes, que não satisfeitos por nos intoxicar com a fumaça, ainda jogam o toco do cigarro na rua? Poderíamos aprender com os ruminantes e ao menos não desperdiçar nossa comida. Tampouco jogá-la no lixo. Mas assim continuará sendo. E seguiremos a chafurdar.

Terrorismo de Estado

Neste ano de eleições, muito se debaterá sobre terrorismo, e muito será lembrado a respeito dos terroristas do pós-golpe de 64. Especialmente porque a candidata da situação, a Dilma Rousseff, é uma ex-militante (ou seria terrorista?) que participou de um grupo armado que na época sequestrou inimigos da causa que este grupo defendia. A oposição deve estar reunindo dossiê farto sobre isso. Mas pouco se debaterá, seguramente, sobre o pior dos terrorismos, o terrorismo de Estado, que desencadeou a reação de outros terroristas, alguns armados em grupos, contra a ditadura militar. No domingo, eu estava lendo o artigo do lúcido jornalista Flávio Tavares (que, aliás, foi preso sem julgamento e torturado nos porões da ditadura dos milicos brasileiros). "A simulação e a mentira são as armas prediletas dos tiranos", diz ele. Com Hitler, eleito pelo voto direto na Alemanha nazista, o terror foi legalizado, lembra Tavares. A diferença para a ditadura brasileira, penso eu, é que, no nosso

Os caminhos que não seguiria

Já que meu último tópico, de ontem, foi um comentário sobre ZH, sigo na linha. Ora, por que você se preocupa tanto com ZH, poderia me cobrar alguém. É saudade ou inveja por não trabalhar mais lá? Nada disso. Estou muito feliz onde estou agora, num mundo completamente diferente da cobertura esportiva, principalmente dessa cobertura esportiva. Quando trabalhei lá sempre cobrei e critiquei alguns procedimentos, sempre com o intuito de tentar melhorar. Minhas críticas agora são como leitor que sou do jornal, e como leitor quero ler o melhor. E o melhor, pra mim, não é ver 10 COLUNISTAS (isso mesmo, 10!)! dando as mesmas opiniões sobre o mesmo tema - o clássico Gre-Nal, claro - em 12 páginas de caderno de esportes. Se formos contar a crônica do David Coimbra, são 11 pra dar pitaco no jogo. Isso sem contar o Diogo Olivier, que agora é colunista o zerohora.com e também emplacou uma materinha (de uma coluna, olha ela aí de novo!) no caderno. Ao menos havia alguma informação nela. Onde foram pa

Os caminhos que segui

Posso me considerar um privilegiado. Trabalhei durante duas décadas na Zero Hora como jornalista esportivo, o principal jornal do RS e no qual muito poucos conseguem entrar, tal a concorrência no mercado. Além disso, peguei aquele que tenha sido, talvez, o que considero como "o último suspiro do moribundo" dentro das coberturas que se fazia naquele jornal. Em 1994, participei de minha primeira grande viagem internacional, ao ser enviado para acompanhar o Campeonato Mundial de Basquete Masculino em Toronto e Hamilton, no Canadá. Sim, você não leu mal. Fui enviado especial, com despesas pagas pelo jornal (pasmem), para aquela que foi até hoje, em 45 anos de ZH, a única vez que o jornal se dispôs a cobrir um campeonato mundial de basquete fora do País. Provavelmente nunca mais o fará. Mas os tempos eram outros, a mentalidade era outra, naquela época o jornal era dirigido pelo Augusto Nunes (que rezo para que não seja meu chefe nunca mais na vida, mas ao menos pensava grande, com

Escravidão

Quando alguém decide fazer um regime, é certo que necessita de muita força de vontade. É uma escravidão. Afinal, como se privar de um pacote de Ruffles, amendoim japonês, mil folhas, pão branco, pizza, bife milanesa, bolinho de arroz e batatas fritas? Como substituí-los por arroz integral, ricota, pão light e de centeio? Realmente, é uma escravidão. E estou nessa há pouco mais de dois meses. No início, foi barbada. Eliminei o cacetinho e o queijo lanche, entre outras delícias, de uma vez e, rapidamente, perdi 4 kg. Me animei. Hoje, estou 5, 6 quilos mais magro (depende do período e se não extrapolo demais na semana), mas ainda não baixei disso. A Renata, minha nutricionista, fez um planejamento que prevê me tornarei um novo homem, mais feliz e com melhor qualidade de vida, se passar dos 87 kg para 80 kg. Estou com 81 e mais alguns gramas. Falta pouco para alcançar a meta. Devo chegar ao meu objetivo em breve. Mas como me manter depois, para o resto dos meus dias desta minha vida que se

Tudo Difícil

Segunda-feira, 18 de janeiro. Meu último dia de férias (ai, que tristeza...). Isso em parte explica, além da falta de inspiração e da preguiça, a minha ausência por tanto tempo neste blog. Meu último post foi no ano passado, há quase dois meses, em 26 de novembro. Sei que estou em dívida com vocês, meus fieis cinco seguidores (minha mais nova leitora é a Cristina Lima, que julgo ser a Kikina, grata surpresa que fui ver agora à tarde, quando abri meu blog). Bom, mas voltando às férias...Como bom brasileiro, deixei para o último dia para fazer algo que estou pra fazer há um tempão. Uma nova carteira de identidade! Me toquei de ônibus e no calorão de mais de 30 graus pro centro. Fui ao tal de Tudo Fácil, ali na Borges, que pelo nome parece que, num estalar de dedos e em 5 minutos, seus problemas acabaram. Que nada. Tão apenas começando. Melhor seria ter ficado em casa. Cheguei lá, exatamente ao meio-dia (sim, estou em férias, e não acordei às sete da manhã pra isso). Na recepção, três jov