A porta se fechou e ele ficou para trás

A menina, ao entrar no ônibus, ainda pode escutar parte do apelo do jovem que, na parada, conseguiu dizer para ela:
- Me liga. 9696...
Ela se voltou para ouvir, mas a esta altura o motorista ja fechara a porta atrás dela e começava a arrancar o veículo.
Não deu tempo para a menina morena, olhos amendoados e cabelos presos em um rabo, responder. Mas o ônibus andou pouco e parou detido em uma sinaleira. Foi quando ela fez um gesto para o pretendente, do lado de fora, como a avisar que não entendia o que ele dizia.
- Me liga. 9696... - começou ele, com a boca próxima da janela, movimento lento dos lábios, sem som, pra que ela pudesse lê-los. Repetiu duas, três vezes.
Ao perceber que, no lado de dentro, a garota não conseguia entender, o rapaz digitou rapidamente o número no visor de seu celular e o encostou no vidro da janela, para que ela enxergasse do outro lado. Neste exato momento, o sinal abriu e o ônibus partiu, quase derrubando o celular e o garoto na calçada. A menina fez um esforço para tentar ver o número quando o ônibus já se afastava.
A bela passou a roleta e escollheu um lugar com dois bancos vazios. Sentou-se, tirou um celular branco da bolsa, digitou um número e passou a conversar . Uma bela história de amor poderia estar começando a partir daquele encontro casual em uma parada de ônibus. Ou uma fugaz história poderia estar terminando por um acaso, ao embarcar no ônibus que, pelo menos na noite daquela sexta-feira, não precisava ter sido tão pontual.

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