10 passos



Ao levantar-se, Manoela olhou para mim, e sem pronunciar uma palavra, sorriu. Posicionou-se na fila, e ainda tive tempo de tirar uma foto antes que ela caminhasse, não mais do que 10 passos, sem olhar para trás, até o altar. Então, sentei e chorei.

Está certo que não foi um choro copioso, como o da mãe dela, Simone, aos prantos do meu lado. Tentei me segurar. Mas depois de alguns segundos resistindo, me vi obrigado, discretamente, a secar uma lágrima que corria pela face esquerda.

Já participei de centenas de momentos emocionantes proporcionados por minha filha: o seu nascimento, festas de aniversário, formatura na educação infantil, apresentações de Natal, peças de teatro, homenagens ao Dia dos Pais... Mas em nenhum eu havia chorado como aconteceu neste domingo, na cerimônia da sua Primeira Comunhão. Fui pego de surpresa. Jamais pensei que pudesse amolecer naquele momento, mesmo sabendo de sua importância. Não sou homem de chorar, onde já se viu!

Mas o coração de pai cedeu. Deve ter sido pelo fato de, naquele instante, ter acordado de um transe. Aqueles 10 passos de minha filha, na história da nossa vida, tiveram enorme significado, como teve para a humanidade o primeiro de Neil Amstrong na lua. Uma conquista. Repentinamente, me dei conta de que a minha garotinha, aos 11 anos, caminha segura para sua autonomia. Cada vez, depende menos de mim. Agora, já pode ir, sozinha, até o altar comungar. Daqui a pouco, dispensará a minha companhia no cinema, embora continue precisando de mim para financiar sua diversão. Mais um tempo, nem para pagar seus ingressos recorrerá ao velho pai.

De volta ao seu lugar, abracei e dei um beijo em Manoela. Percebi seu olhar espantado, mas agi com naturalidade, como se nada anormal ocorresse. À noite, em casa, comentei com ela: “Gostei muito de tua comunhão, filha, até chorei, bem pouquinho, mas chorei”. “É, eu percebi”, respondeu. Está na hora de aposentar minha capa. Afinal, super-heróis não fraquejam.





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