É tempo de viajar

Hoje escalei sozinho uma montanha no Tibete. Do topo, apenas com a melodia do vento como testemunha, mirei o infinito, e lágrimas congelaram em minha face. Há dois dias, eu desembarcava em uma praia na Normandia, e essas mesmas pernas que me transportaram ao cume e agora quase não as sinto, paralisadas pelo frio e a emoção, foram ágeis o suficiente para me fazerem desviar das balas que o inimigo atirava contra mim sem dó. Vi dezenas de companheiros fenecerem tombando ao meu lado, e dessa vez, meu choro foi de tristeza. Preciso desopilar e aliviar essa tensão. Amanhã, quem sabe hoje mesmo, estarei em Nova York, em um teatro na Broadway, assistindo a um musical e me deslumbrando. Talvez Les Misérables, de Victor Hugo? De preferência, ao lado da minha amada, que poderia ser a Capitu, com o perdão e a licença do Bentinho e de Machado de Assis. Pararemos em um café, caminharemos muito juntos, conversaremos e, sem nos dar conta, chegaremos a Santa Fé, onde Erico Verissimo, Rodrigo Cambará e Bibiana Terra nos receberão, claro, com um saboroso churrasco. Mas, assim como Rodrigo Cambará, sou um homem inquieto, e não costumo me fixar muito tempo em um mesmo lugar. Darei um beijo em Capitu, me despedirei dos amigos e, On The Road, cruzarei por Jack Kerouac, Sal e Dean. No caminho, ainda encontrarei Dostoiévski e dividirei as mesas de jogos com Aleksei Ivanovitch. Me entregarei à morenice brejeira de Gabriela, afinal, que homem resiste a um apelo de Gabriela, não é, Jorge Amado? Sem dinheiro, retornarei para casa, onde no aconchego serei recepcionado pelo Gabriel García Márquez e a matriarca Úrsula Iguarán. Descansarei um bocado e voltarei a viajar pelos meus livros.

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