A vida é bela

Estava eu lá plantado, feito um 2 de paus, de madrugada, na esquina da João Pessoa com a República. À minha volta, colorados enlouquecidos comemoravam o bi da Libertadores nas calçadas, agitavam bandeiras, berravam e cantavam. Carros buzinavam com os caronas meio corpo para fora da janela. Foram minutos difíceis, quase uma tortura. Não, uma verdadeira tortura. Esperava pela Manoela e a Simone, que vinham a pé com meus pais de uma pizzaria próxima, onde assistiram ao jogo final. O ponto de encontro era justamente ali, estratégico, naquela esquina, um pouco mais distante da rua onde o congestionamento impedia qualquer deslocamento. Não resisti ao vê-la. Até o meu mau humor sucumbiu àquela imagem. Em minha direção, bracinhos abertos, vinha correndo a Manô, sorridente, toca vermelha e branca, feliz aos oito anos com o segundo título sul-americano que acabara de presenciar de seu time. Curvei-me, respeitosa e afetuosamente, como devemos nos curvar solenemente aos campeões, para beijá-la. Uma criança, a filha da gente em especial, é capaz disso. Esqueci minha tristeza, e parece que por poucos segundos todos os colorados ao meu redor silenciaram. Manô se pendurou no meu pescoço, radiante, e me abraçou. Cedi.
– Parabéns, minha querida, pelo título – consegui pronunciar.
Não foi apenas uma frase da boca para fora. Meu coração foi tomado, em parte, pela alegria que contagiava os colorados naquele momento, ao ver a felicidade de minha filha. Futebol não é tão importante assim para nos tornar irracionais. A vida é bela, afinal.

Comentários

Luciano disse…
Belo relato, amigo...

Emocionei, de fato!

Abração
Lu
Anônimo disse…
Entendo que para a Manô tão importante quanto o título foi o gesto do pai! Isso sem dúvida marcará a sua vida!

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