Folheando o laptop

De volta à discussão sobre o fim do jornalismo impresso. Essa semana, Arthur Sulzberger Jr., presidente do conselho e editor do The New York Times admitiu, durante evento em Londres, que o seu jornal abandonará a edição em papel. E que isso não deverá demorar muito, talvez em até 5 anos. “Nós deixaremos de imprimir o New York Times em algum momento no futuro, em data a ser definida”, disse Sulzberger.
Pode ser até que Sulzberger fale a verdade com relação ao NYT, mas sempre que ouço alguém prevendo o fim do jornalismo impresso no mundo lembro do filme Blade Runner, o Caçador de Andróides. Na obra-prima de Ridley Scott, em um futuro distante, as pessoas vivem em um planeta sombrio, chuvoso, triste e quase dominado por replicantes. Neste filme, as pessoas se transportam por veículos que voam, como se fossem espaçonaves em miniatura. Muito legal.
Por que me vem à memória este filme? Porque só consigo imaginar o jornal impresso terminado quando a ficção de Ridley Scott se tornar real. No dia em que uma catástrofe nuclear ou um acidente ambiental de dimensões extraordinárias dizimar com todas as florestas do mundo, inclusive as industriais, criadas artificialmente para suprir as companhias de celulose, a previsão do fim dos jornais poderá se confirmar. Unicamente pela falta de matéria-prima para imprimi-los, não por outra razão.
Recentemente, o tradicional Jornal do Brasil, o JB, passou a circular apenas pela internet, encerrando mais de um século de edições impressas no Brasil. Talvez este seja mesmo o destino de muitos jornais, inclusive o NYT, mas certamente não o de todos. Só o que editores e donos de jornais não se questionam é o porquê de estarem perdendo a cada dia mais leitores. Falam em concorrência da mídia eletrônica, internet e redes sociais, e da falta de tempo das pessoas, com suas vidas cada vez mais atribuladas. O que poucos detectam – ou fazem de conta que não detectam – é que o leitor está pulando fora, em grande parte, também, porque estes jornais estão ruins. Sem conteúdo. Por isso, o "consumidor de jornal" faz a opção e troca, como qualquer produto. Se não fosse assim, por que, então, outros jornais atualmente conseguem aumentar suas tiragens e não perder anunciantes?
Além disso, não consigo me imaginar (e nem você, acredito) folheando o meu jornal diário no banheiro por meio de um clique no botão F1, com um notebook no colo. Ou com uma lupa na mão, pra poder aumentar o corpo das letras das páginas de meu celular ou blackberry. Essas mídias são complementares, não excludentes. Ou, que tal então você na praia, à sombra da árvore, deitado na rede "lendo seu laptop"? Acho que esta cena final jamais veremos. Quando a Última Edição for impressa, não haverá mais árvores para se pendurar a rede.

Comentários

Roberto disse…
Boa lembrança, Renato. Mas é bom lembrar (desculpa a repetição) que, no filme, mesmo com todo o futurismo, tem várias cenas em que os personagens aparecem lendo jornais impressos.

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