A noite que nunca acabou

" Como ousa, como ousa!". Imagino que os grandes Pelé e Zico, dois ícones da camisa 10 dos campeões mundiais Santos, em 1962 e 1963, e Flamengo, 1981, devem ter dito isso, ao menos pensado, naquela madrugada de 11 de dezembro de 1983. A milhares de quilômetros de suas casas em Santos e no Rio, na fria Tóquio, o atrevido camisa 7 de apenas 20 anos do Grêmio, Renato Portaluppi, com dois gols desmontava a divisão punzer alemã do Hamburgo e levava o clube gaúcho ao maior título de sua história: o Campeonato Mundial Interclubes. "Como ousa, como ousa", podem ter repetido eles. Como que um clube fora do eixo Rio-São Paulo, na ponta do Brasil, da desconhecida internacionalmente Porto Alegre, poderia se atrever a tanto? Até então, apenas Santos e Flamengo haviam obtido essa glória entre clubes do Brasil. O Grêmio de Renato abriu caminho, colocou Porto Alegre no mapa e quebrou a hegemonia dos timaços de Pelé e Zico. Depois do Grêmio, vieram outros... E eu presenciei tudo isso. Tenso, aos 19 anos. Não, não estava lá em Tóquio, mas petrificado no sofá do apartamento do meu amigo Paulo César, no Bairro Santa Cecília, em Porto Alegre. Eu, o Paulo e mais dois amigos, um deles secador. Saímos de lá direto para a Erico Verissimo, onde na frente do prédio da Zero Hora uma multidão em delírio se acotovelava na festa que começava a tomar as ruas de Porto Alegre sem hora para terminar. Mas por que lembro de tudo isso hoje, se nem aniversário do título é? Porque no próximo domingo a RBS TV vai reproduzir aquele jogo. Grêmio 2x1 Hamburgo. Lembro como aquela noite regada a cerveja começou, mas não recordo como terminou. Na verdade, sei por que não recordo: é porque aquela noite nunca acabou.

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