Homens-rato

Estava eu distraído na longa fila do lotação, na Avenida Dr. Flores, no final da modorrenta tarde de segunda-feira, quando tive minha a atenção desviada para a cena: à minha frente, a menos de dois metros, dois homens jovens, cabelos longos e grossos, pele escura pela sujeira que se impregnara e grudara ao corpo há dias sem banho, reviravam os sacos de lixo depositados na frente daquela galeria. Faziam isso com gestos rápidos, abriam cada um dos enormes plásticos pretos, nos quais introduziam as mãos sujas e sem luvas. Reviravam até o papel higiênico, e separavam tudo que era de plástico, ou metal. Após verificarem cada um dos sacos, voltavam a fechá-los, com cuidado, dando nós para que não se abrissesm novamente. Os olhos arregalados analisavam o lixo e, ao mesmo tempo, olhavam em volta, parecendo cuidar se alguém não se aproximaria para corrê-los dali. Ninguém os correu. As pessoas nas redondezas pareciam tão fixadas na cena quanto eu. Uma senhora alguns passos à minha frente acompanhava tudo com olhar estranho, parecia com nojo, não sei se da cena que presenciava ou do aspecto dos homens. Tão rápido quanto apareceram, os dois sumiram no meio da mutidão, depois de selecionar o que precisavam. Como ratos, saíram à procura da riqueza no lixo que os alimentasse.

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