Michel Jordan

Diariamente Michel Jordan, alcunha pela qual Robson Antonio era conhecido no Morro da Queimação, ouvia a mesma brincadeira ao cruzar por aquele grupo de amigos que ficava sempre a vadiar pelas escadarias da favela.

– Ainda não desistiu de escutar as besteiras dos bacanas lá no asfalto? Aqui no morro você aprende muito mais!

– Não tenho vergonha de estudar, não! – respondia à turma, formada pelos últimos de seus amigos de infância, aqueles que, assim como ele, sobreviveram até ali à rotina de violência que ameaçava e amedrontava o morro. Só que, ao contrário de Michel Jordan, esta turma de "vagal" se recusava a estudar.

– Um dia provo pra vocês que eu é que estou certo. Não é difícil, basta um pouquinho de boa vontade – insistia ele, seguindo a passos firmes até a escola pública, localizada no pé do morro, na qual participava de uma turma noturna de conclusão do Ensino Médio .
Apesar de serem tão diferentes, Michel Jordan (grafado por ele assim mesmo, sem o "a", para "diferenciar do original", costumava brincar Robson Antonio) e a turma conviviam em harmonia. Afinal de contas, cresceram juntos e se respeitavam, embora a maioria tivesse seguido caminhos opostos na juventude. Michel Jordan foi o apelido criado pelos amigos com quem jogava o street basket, admirados com sua técnica no esporte da bola ao cesto, que lembrava a do ex-craque do basquete americano. Não fosse pela cor da pele e pela sua habilidade com a bola, porém, Robson em quase nada lembrava Michael. Usava cabelo com tranças "rasta", ao contrário da careca reluzente do americano. Era até baixo para os padrões do esporte. Media 1m90cm, oito a menos do que o Michael. Mas sua agilidade no ar, capaz de realizar dribles quase inacreditáveis antes do arremesso, semelhante ao ex-craque do Chicago Bulls, tornava o garoto um fenômeno nas quadras de cimento. Por mais de uma vez, chegou a ser convidado para participar de equipes profissionais brasileiras, e disputar a principal competição do País, a Liga Nacional. Chegou a tentar uma vez, mas seu time foi mal, sequer se classificando à segunda etapa da competição. Mas não foi essa a razão que o levou a abandonar o esporte. Michel Jordan pouco ligava para a fama que o basquete poderia lhe trazer algum dia, ou o dinheiro que poderia lhe proporcionar caso conseguisse o sucesso que os outros previam pra ele no esporte. Michel Jordan tinha uma obsessão, e planejava o seu futuro determinado a seguir um caminho único: o dos estudos.

CONTINUA

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