O dia que a igreja traiu Cristo

Foi então que Deus, cansado de ver o homem cada vez regredindo mais e esquecendo o caminho que ele há milhares de anos começou a ensinar, resolveu enviar seu filho novamente à Terra. Era tempo de uma aula extra para "refrescar a memória" do planeta. Além disso, se fazia necessária uma conversa séria com aquela parcela da raça humana encarregada de levar ao mundo a sua palavra por meio da igreja.

– JC, tenho uma nobre missão para você – disse Deus.

Em pleno século 21, Deus se acostumara a tratar o filho pelo apelido. Afinal, quando o menino nasceu, há milhares de anos, o mundo era outro, e as pessoas não costumavam se colocar apelidos, a coisa era mais formal e respeitosa. Não que atualmente a informalidade signifique desrespeito. Você pode ser respeitoso, mesmo sendo informal. Ou o inverso. Ser formal e extremamente desrespeitoso.

Mas, voltando à cena, JC se aproximou, obediente como vem sendo nos últimos dois mil anos. Incrível como o tempo pareceu não passar para ele. A aparência se manteve igual à de quando partiu da Terra, aos 33 anos: a mesma barba grisalha desgrenhada e o mesmo olhar sofrido e bondoso.

JC ouviu atentamente as recomendações do pai. Bem orientado, desembarcou em Pernambuco. Lá, se encarregou de mediar a primeira polêmica. A Igreja Católica, representada por um arcebispo, colocou até advogado e ameaçou ir à Justiça para impedir que uma pobre menina, de 9 anos, que sofria estupros do padastro desde os 6, pudesse abortar os gêmeos que tinha no ventre. A gestação era considerada de alto risco por causa do porte da criança-gestante, com 1m33cm e 36 quilos. Em situações extremas como esta, a justiça do homem aceita o aborto. A justiça divina, nem em situações extremas como esta.
Segundo o advogado da arquidiocese de Olinda e Recife, a mãe estava sendo orientada por entidades para que o aborto fosse feito. “Essas organizações poderiam orientar e tentar ajudar a mãe o máximo possível para que a gravidez fosse levada adiante, até o momento de uma cesariana”, disse o advogado. “É a lei de Deus, ‘não matarás’. Consideramos que é um assassinato”.
Em meio à polêmica, JC pediu a palavra:
– Sejam sábios. As leis de meu pai foram lançadas há milhares de anos. É imprescindível que sofram as adaptações necessárias à evolução do planeta e das espécies. Não podem, e não devem, ser seguidas cegamente. Precisam ser interpretadas e adaptadas aos novos tempos que vivemos.
Incrédulos com o que consideraram uma heresia, os representantes da igreja duvidaram da seriedade de JC. Identificaram-no como um impostor, se recusaram a seguir suas orientações e passaram a desprezá-lo e a negá-lo. Tal tratamento provocou a ira de Deus.

CONTINUA

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O voo de Cília

É tempo de viajar

A Porto Alegre que me faz feliz