O Beco do Franklin

Depois que aquela voz feminina repetiu pela sexta vez uma instrução que o motorista ignorara, cheguei a imaginar que o taxista fosse quebrar a socos o GPS do Santana que me transportava do centro da cidade à zona leste naquela noite. Afinal, de que adianta ter um equipamento caro desses instalado no teu carro se ele não serve pra nada?
– A 600 metros, vire à direita. Em seguida, vire à esquerda – insistia ela.
Seiscentos metros adiante, o motorista seguia reto, desconsiderando o apelo de sua navegadora computadorizada que, porém, não se dava por vencida. O próprio computador de bordo tratava de corrigir o percurso e a voz retornava:
– A 300 metros, vire à esquerda.
Chegando no cruzamento, nosso amigo motorista, o que fazia? Virava à direita!
Até que, a cerca de um quilômetro da minha casa, a voz deu a ordem que me pareceu definitiva.
– A 600 metros, vire à esquerda.
Aí eu não resisti, e fui obrigado a brincar com o motorista do táxi:
– Até que enfim essa mulher que trabalha contigo acertou uma – falei, sem nenhum preconceito às motoristas, apenas reconhecendo que mulheres, no trânsito, têm um sério problema de noção de direção.
– Querido, o caminho não é por aqui? – costumam repetir elas, no banco do carona, quase sempre apontando ao parceiro na direção oposta a que eles precisam ir.
No caso da locutora do GPS, percebi que ela realmente havia acertado desta vez, pois eu estava a cinco minutos de minha casa e conhecia bem aquela parte final do caminho. Só que, durante os 10 quilômetros do percurso, admito que me perderia se estivesse dirigindo e seguindo as instruções do computador.
Por sorte o motorista que me pegou conhecia bem a rota.
– Se eu seguisse por aqui onde ela mandou, sairíamos no Beco do Franklin. E de lá não tem passagem pra sua rua – explicou ele.
Beco do Franklin? Nada como a sabedoria humana pra derrotar a teimosia das máquinas. Ainda bem que o homem existe pra acabar com o mito dos superpoderes do computador.

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