A menina só

Os minutos foram se passando, e Marina começou a ficar nervosa. Fazia mais de uma hora que dera o sinal, e a essa altura, além da funcionária da recepção, a diretora da escola, a coordenadora pedagógica, e mais três professoras, inclusive Liége, a da 1ª Série, que Marina frequentava, realizavam um mutirão de telefonemas, tentando localizar algum parente que viesse buscar a menina, de seis anos. A escola estava vazia, até os últimos alunos retardatários já haviam batido em retirada. A tarde, já encoberta pelo crepúsculo, se despedia com uma chuva fina e um vento gelado.
Os pais de Marina normalmente se atrasavam para buscá-la na escola. Às vezes a mãe, outras vezes o pai, pontualidade não era o forte deles. Mas nunca ocorrera de a filha ter ficado mais do que 30 minutos esperando alguém para levá-la para casa. Havia uma salinha na recepção na qual as crianças menores permaneciam até a chegada de pais retardatários. Marina estava sozinha. Mantinha a mochila colorida de pé à frente dos pés, e a cabeça apoiada nos braços sobre a mesa. Soluçava e repetia baixinho:
–Onde está o meu pai?
Marina sabia que era o dia do papai apanhá-la na escola. A menina ainda se lembrava das palavras do pai, Otávio, ao se despedir dela pela manhã, ainda em casa, antes de sair para trabalhar. Estalou um beijo na face, como normalmente fazia, e falou:
– Fica com Deus. Papai vai te buscar hoje à tardinha.
Haveria a alternativa de tentar localizar algum parente próximo para resgatar a menina, enquan to seus pais não davam notícia. Mas os pais de Marina nunca deixaram na ficha de matrícula o telefone de ninguém como opção para recados. Tios, avós da criança, primos, amigos. Nada. Eram totalmente sozinhos na cidade. Onde estariam eles agora?

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